Com o anúncio do show de despedida da consagrada To Live Again
Tour 2012, o Wikimetal decidiu presentear os fãs do VIPER com uma série de
entrevistas com os 5 integrantes da banda onde todos vão responder as mesmas
perguntas sobre passado, presente e o futuro do VIPER. O Wikimetal sente
profundo orgulho em ter feito parte dessa reunião, foi emocionante para nós e
gratificante receber os elogios que recebemos. Esperamos que os fãs de SP e
região lotem mais uma vez o Via Marquês no dia 2 de dezembro para mostrar que
um trabalho bem feito e de qualidade sempre vai ser apoiado pelo público. Quem
responde nossas perguntas agora é o grande ANDRE MATOS!
Wikimetal: Como todos nós sabemos, esse
realmente será o último show da To Live Again Tour. Mas o que os fãs realmente
querem saber é, será o último show do VIPER?
Andre Matos: Em princípio, sim.
De fato, a turnê estava prevista apenas para o mês de Julho. Nós tiramos o mês
de Agosto para descansar e, devido a inúmeros pedidos, concordamos em estender
a temporada. Muitas cidades iriam ficar de fora se não o tivéssemos feito.
Apenas em Julho, num período de 20 dias, fizemos mais de 15 shows. E devemos
chegar ao final da turnê com aproximadamente o dobro de datas. O plano inicial
sempre foi fazer uma única turnê, comemorativa aos 25 anos do "Soldiers of
Sunrise", apresentando na íntegra o repertório dos dois primeiros álbuns.
Do primeiro concerto até agora, alguns detalhes mudaram no show - continuamos,
obviamente, tocando todas essas músicas sem exceção - mas tudo acabou ficando
muito mais coeso e sincronizado. Pegamos o ritmo na estrada e o palco passou a
ser nossa casa durante esse tempo. De qualquer forma, devemos honrar a previsão
inicial de uma tour única e, este será de fato o grande concerto de despedida,
fechando com chave de ouro. Ninguém pode dizer se, num futuro distante,
voltaremos a nos unir novamente. Certamente daria tão certo quanto agora. Se
dependesse de nós, continuaríamos tocando juntos, pelos próximos 20 anos. No
entanto, cada um tem as suas atividades próprias e, pode-se dizer inclusive,
prioritárias. A turnê "To Live Again" foi uma exceção que abrimos em
nossas agendas de trabalho para que pudesse acontecer. Terminada esta etapa,
voltamos ao nosso cotidiano habitual. Sentiremos falta do convívio, dos
momentos junto ao público, do clima de família que imperou nesses meses todos.
E da energia incomparável que é tocar aquelas músicas de 20 anos atrás e
perceber que elas ainda estão jovens. Eu saio realizado- mas não sem uma ponta
de nostalgia por ter de encerrar esta etapa. E, para suprir a falta que
certamente sentiremos nos palcos, pretendo já estar em breve na estrada com
minha banda solo, que acabou de lançar o novo álbum "The Turn of the
Lights". Tocaremos algumas músicas do VIPER
ao vivo, como sempre fizemos, em homenagem a este período fundamental de minha
carreira.
WM: Qual foi, pra você, o ponto alto
dessa série de 25 shows?
AM: Seria muito injusto designar um ponto
alto. O primeiro show em São Paulo no Via Marquês foi tecnicamente impecável, e
tivemos a sorte de tê-lo registrado na íntegra para o DVD que será lançado no
futuro. Mas o DVD também trará trechos de todos os outros shows que fizemos de
norte a sul do Brasil. Foram tantos, que fica difícil lembrar os detalhes de
cada um em especial. O ponto alto da turnê foi perceber que, em cada lugar que
passávamos, independente de, se nas capitais ou interior, o público estava lá,
lotando todas as casas de show e cantando as músicas do começo ao fim. Um
público no qual pudemos reconhecer as caras mais antigas, do tempo do VIPER
original, e também as de uma nova geração, muitas vezes os filhos deste
pessoal, que nunca teve a chance de ver a banda ao vivo antes. E era isso o que
nós queríamos afinal. E, finalmente, a melodia que nunca sai de nossas cabeças,
entoada em coro em todos os shows, sem exceção: "Olê, olê, olê, olê... VIPER...VIPER!".
Não vamos esquecer estes momentos e devemos agradecer a cada um dos que
compareceram aos shows pelo verdadeiro "presente" que nos deram.
WM: O que você diria para os fãs que
viajaram KMs para ver o show da banda e para aqueles que viajaram KMs para ver
vários shows?
AM: O que dizer? Obrigado! Muito obrigado!
Esperamos que tenha valido a pena o esforço. Conversamos com o público antes ou
depois dos shows sempre que possível e ficamos sabendo das loucuras que muitos
fizeram só para estar ali. É difícil transportar uma estrutura deste tamanho
para todos os municípios onde temos fãs, por isso tivemos de eleger algumas
cidades-chave, que fossem também acessíveis a quem vive na região. Mas, estas
regiões muitas vezes alcançam um raio de 500, 600, 1000 km! E, mesmo assim, as
pessoas vinham aos shows, não tinham onde dormir, esperavam o transporte até de
manhã cedo. É o sinal de que alguma chama poderosa se mantém viva no peito de
cada um. Espero que tenham levado, em suas viagens de volta para casa, não
apenas a própria bagagem - mas também a memória de um momento único, que não se
repetirá. E que possamos nos encontrar novamente, independente do tipo de show,
banda ou turnê que estivermos fazendo no momento. Nossa intenção é sempre
adentrar mais a fundo em nosso próprio país e revelar o potencial que cada
região tem de organizar eventos deste tipo, quebrando os tabus e os
preconceitos. Espero ver um dia tudo isso realizado, não apenas para nós, como
para todas as bandas batalhadoras e dignas desse País.
WM: Qual foi a maior lição e
aprendizado que você leva dessa tour?
AM: Que a amizade é atemporal. Que a
originalidade é atemporal. O Viper começou a fazer história há 25 anos, e ela
está mais viva hoje do que nunca. Se não houvesse amizade verdadeira e uma
grande sintonia, esta turnê talvez nunca tivesse chegado ao fim e cumprido a
sua meta. E a tolerância acaba sendo um aprendizado que sai fortalecido disso
tudo. O sentimento de "família" que rolou entre a banda, a equipe, os
promotores e o público. Por incrível que pareça, acabamos nos conhecendo muito melhor
hoje do que achávamos que nos conhecíamos 20 anos atrás. E foi uma grata
surpresa, pois redescobrimos o quanto temos em comum. E que temos de ajudar-nos
uns aos outros sempre, sem individualismos ou egocentrismos. Todos têm a mesma
importância, seja na banda ou na equipe. Não há patrões nem empregados, há
confiança e respeito. O mesmo respeito que conseguimos manter uns pelos outros,
muitas vezes em situações limítrofes, e que foi a grande lição de convivência.
Um tipo de Reality Show onde não há vencedor, nem vencidos!
WM: O que você acha que teria
acontecido com o VIPER se o Andre não tivesse saído depois daquele
show no Dama Xoc em SP há tantos anos atrás?
AM: Eu não teria me formado em música e
nem desenvolvido a carreira internacional quando fundei o Angra,
por exemplo. Mas o Angra não estava nem sequer embrionário naquele
momento. Minha maior preocupação eram os estudos. Havia acabado de ingressar na
faculdade de música clássica, que exigia uma média de estudos diários de 8 a 12
horas! E era o meu primeiro ano, tinha de dar o máximo de mim. Quando gravamos
o Theatre of Fate, este dilema já estava no ar. Me lembro de ter chegado para a
banda, ainda no estudio, quando estávamos finalizando o disco e ter tido uma
conversa séria com todos eles... De que eu precisaria me afastar em função
dessa decisão. Que não foi uma decisão fácil - aliás, como todas as outras na
minha carreira. Foi um pouco frustrante para todos, e também para mim. Um
momento triste. Mas que foi compreendido numa boa. Eles só pediram que eu
completasse a turnê depois que o álbum saísse, e concordei em fazê-lo.
Mantivemos esta questão sempre em sigilo durante o tempo de turnê; chegamos
inclusive a fazer algumas aparições em programas de TV na época. Até que chegou
o momento derradeiro no show do lendário Dama Xoc, em Junho de 1990. Nós
sabíamos o que nos aguardava ali, mas tanto o público como nossa equipe e os
amigos mais próximos não sabiam. Não chegamos a anunciar a despedida de uma
forma definitiva. E, meses mais tarde, chegou a ser cogitada a minha volta para
a banda, mas neste momento, já havíamos nos distanciado um tanto mais e, enquanto
eu me afundava nos estudos, a banda tratou de seguir seu próprio caminho com o
Pit nos vocais. Impossível dizer o que de fato teria acontecido na carreira da
banda se nada tivesse mudado. Poderíamos ter alcançado o topo, poderíamos ter
falhado no meio do caminho. Isso não importa, O que importa é que a separação
foi pacífica e, 20 anos depois, pode-se dizer que foi benéfica para todos, pois
nos fez crescer individual e musicalmente, e o resultado disso tudo é que a
nossa amizade saiu fortalecida depois de todos esses anos. E é isto que se leva
daqui. Talvez, se tivéssemos permanecido juntos e inexperientes como éramos,
não teríamos controle total sobre nossas atitudes e seríamos talvez mais uma
banda que se desmancha no ar por motivos insignificantes. Prefiro acreditar que
o destino escreveu nossas histórias da melhor maneira como poderia ser!
WM: Um dos maiores sucessos do VIPER,
o excelente disco Evolution, foi lançado há exatamente 20 anos. Os fãs podem
esperar algum tipo de celebração para comemorar esse grande marco e esse grande
disco?
AM: Como não fiz parte deste disco -
apesar de me "arrepender" hoje em dia, pois o acho um grande álbum e
gostaria de tê-lo gravado - não arrisco afirmar nada em relação a qualquer
eventual comemoração. O fato é que, até onde sei, não há nada em vista em
relação a isso, não conversamos a respeito - até por se tratar de um período da
banda no qual eu já não mais estava. Entretanto, durante os shows da "To
Live Again" tour, tive a oportunidade de cantar a música "Rebel
Maniac" que, apesar de não ter sido gravada por mim, é um clássico
absoluto. Agradeço aos companheiros de banda e especialmente ao Pit Passarell a
confiança ao deixá-la por minha conta nos vocais! Sempre foi um dos momentos
mais empolgantes do show. Imagino que muitas das músicas do Evolution poderiam
surtir o mesmo efeito ao vivo, também.
WM: Em 2013 já foi anunciado o
lançamento do DVD e do CD duplo Live in São Paulo. Como estão os preparativos
para esse grande lançamento? O VIPER prepara algo especial para essa ocasião?
AM: Mais uma vez, eu talvez seja o último
a saber... Haha! O DVD foi uma excelente ideia. Uma equipe de profissionais
tarimbadíssimos tanto em audio quanto em video fez a captação do show principal
em S.Paulo - e não houve um único show sequer da tour que não fosse registrado
em imagem HD para os extras. Eu acho que o DVD será na verdade o grande
tributo, a grande herança que vamos deixar para os fãs como um registro de todo
esse período. E que, sem dúvida, mereceria no mínimo uma grande festa de
lançamento quando estiver pronto.
WM: Vocês vão realizar algum tipo de
gravação no show The Farewell Concert em SP no dia 2 de dezembro para o DVD
Live in São Paulo?
AM: Como sempre, serão captadas as imagens
finais. Como a produtora do DVD está baseada em SP, é certo que estejam
presentes novamente com todo o equipamento, para que não desperdicemos mais
esta chance de captar boas imagens. E, como toda boa despedida, provavelmente
vá ser um momento especialmente emocionante. Uma história com começo, meio e
fim. Seria muito bom se todo o público que esteve no primeiro show comparecesse
novamente para esta despedida. E, para aqueles que não puderam ir, agora têm
finalmente uma última chance.
WM: A To Live Again Tour foi uma tournê
diferente, marcada pela emoção. Ficava claro para os fãs que viram o show, como
a banda estava se divertindo no palco e como vocês continuam amigos depois de
tantos anos. Qual o ou os pontos do show que mais te emocionavam?
AM: A parte da introdução antes da
entrada, quando sempre nos abraçamos no backstage, esperando para atacar com
Knights of Destruction. O video retrospectivo entre as duas
partes do show, onde aparecem imagens raras, de quando éramos ainda
adolescentes e já no Viper. A sequência
Living For The Night, A Cry From the Edge e Moonlight. Vão ficar marcadas
para sempre. E o encerramento, com evolution na voz do Pit, depois Rebel Maniac
e We Will Rock You... Seguido pela trilha de despedida do Monthy Python,
"Always Look on the Bright Side of Life", que sempre nos enchia de
emoção enquanto cumprimentávamos a platéia. São cenas que não se apagarão
jamais. E nem quero falar muito mais, senão vou querer continuar essa turnê
para sempre!! :)
WM: A To Live Again Tour vai deixar
saudades?
AM: Vai. Curto e grosso.
WM: Deixe um recado para os fãs do VIPER
que pedem insistentemente para que a banda não termine depois dessa tour.
AM: O que tenho a dizer para
tranquilizá-los é que de fato a banda nunca terminou. Foi uma das poucas que conseguiu
esse feito. Mudaram integrantes, mudaram estilos, houve pausas extensas nas
atividades... mas, de repente, quase como mágica, estávamos nós todos ali no
palco, juntos novamente. Crescemos juntos. Somos como irmãos. Se a amizade não
termina, a banda não termina. Pode ser que um dia, no futuro, voltemos com
alguma surpresa. Ninguém pode dizer que não, e vontade é o que não falta. Vamos
colocar o VIPER em estado de hibernação e enquanto isso,
seguimos em frente individualmente, e com a mesma garra. Quando o gelo derreter
e o inverno passar, pode ser que a víbora desperte novamente... Mas, antes
disso, nos encontraremos mais uma última vez, para a grande despedida desta
etapa. Que será inesquecível.
O show de encerramento da turnê do VIPER acontece
dia 02.12 no Via Marquês. Ingressos à venda na Ticket Brasil.
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