Insatisfeitos com o atraso, alguns fãs deixaram o local antes do início da apresentação e outros reclamavam da falta de "assistência" por parte da organização, como foi o caso da professora Camila Vieira, de 26 anos.
"Vim de Belém só para ver o show. Vou entrar com um processo contra a produtora, não só pelo atraso absurdo, mas também pela pouquíssima assistência que nos deram depois do cancelamento da apresentação marcada para o dia 14 de março", disse.
Já o estudante Rafael Canetti, de 29 anos, também indignado, parecia mais conformado. "É uma total falta de respeito, acho que ele (Axl) pensa que ninguém precisa acordar cedo para trabalhar. Mas, já que estou esperando até agora, ficarei até o final", resignou-se.
A advogada Mariana Torres, de 29 anos, chegou a dormir numa área restrita aos seguranças da Apoteose no intervalo interminável entre o fim do show de Sebastian Bach e o início da apresentação do Guns.
"Cansei de esperar. Cheguei muito cedo e não resisti", contou Mariana.
Até a publicação desta reportagem, o G1 não havia conseguido entrar em contato com a assessoria de imprensa da produtora do show para esclarecer os motivos do atraso.
Sem comida
A espera acabou provocando outros contratempos. De acordo com vendedores que trabalhavam no local, já não existia comida à venda — apenas cerveja — desde o final do show de Sebastian Bach, por volta das 23h.
O ex-vocalista do Skid Row fez uma apresentação correta e conseguiu entusiasmar a platéia em alguns momentos dos 80 minutos em que permanceu no palco. A empolgação foi maior quando fez uso dos hits "18 and life", "I remember you", "Monkey business" e " In a darkened room", de seu antigo grupo, canções muito conhecidas do público brasileiro. Muito comunicativo, Sebastian saudou a Apoteose diversas vezes em português: "Vamos destruir este lugar", esbravejava o cantor.
A primeira atração da noite foi a banda carioca Majestike, que subiu ao palco às 20h e tocou por cerca de 20 minutos — pela pista VIP, comentava-se a semelhança entre a sonoridade do conjunto e o Evanescence, da cantora Amy Lee.
Enfim, Guns N' Roses
Já na madrugada de segunda-feira (5), precisamente às 1h03, veio a tão esperada atração principal. Vestido com uma calça jeans, blazer rosa brilhante e um chapéu de caubói, Axl Rose surgiu correndo pelo palco. Com sua voz inconfundível, atacou de "Chinese democracy", do disco homônimo e mais recente da banda. Vendo a performance do cantor, é inevitável a comparação com o passado glorioso do próprio Guns.
Aliás, já faz alguns anos que o Brasil se transformou em destino corriqueiro para o que podemos chamar de “arremedos de banda”, grupos que, por diferentes motivos, já não contam mais com parte de seus integrantes originais e que, se aproveitando da popularidade que ainda têm por aqui, desembarcam no país com status de grande atração internacional. Creedence Clearwater Revival, The Doors, Deep Purple, Jethro Tull, Queen, Echo & The Bunnymen... Até os Rolling Stones, que demoraram mais de 30 anos para fazer um show em território nacional, vieram sem o baixista Bill Wyman, que deixou o conjunto em 1991 — OK, Jagger e Richards ainda estão em forma e garantem o espetáculo.
Na mesma batida das supracitadas bandas, o polêmico Axl Rose fez pior: reuniu um bando de músicos anônimos sob a grife Guns N’ Roses e se enfurnou em estúdio por quase uma década para gravar um álbum e excursionar internacionalmente. O mais incrível é que, mesmo com a desconfiança que uma “volta” como esta possa sugerir, as canções da banda, que teve seu auge no fim dos anos 80 e início nos 90, não perderam a força. Lembra algo próximo a uma banda cover de luxo, mas a plateia não parece sentir falta do guitarrista Slash ou do baixista Duff McKagan, ex-companheiros de Axl. O repertório ainda parece resistir.
Os sucessos "Sweet child o’mine”, “November rain”, “You could be mine” e "Welcome to the jungle", entre outros, contrastam com as apagadas "This I love", "Better" e "Sorry", de "Chinese democracy", que dispersam o público, bem como os números solo do tecladista Dizzy Reed, contemporâneo de Axl nos tempos dos álbuns "Use you Illusion" e dos guitarristas Ron Bumblefoot (fez uma versão até que interessante do tema da Pantera Cor-de Rosa, de Henry Mancini) e DJ Ashba, que procura ocupar o espaço que Slash deixou na banda, apropriando-se de alguns dos elementos cênicos do guitarrista original (um cigarro sempre aceso, a guitarra Gibson, modelo Les Paul, e a cartola).
Telões
Tecnicamente, o show é impecável. Equipado com um telão central, quase que obrigatório em shows deste porte, o palco ainda tinha quatro telões verticais ornamentados com cortinas formadas por pequenos leds coloridos. Nas laterais, mais dois telões projetavam imagens da banda para o público mais distante.
Nem tão impecável assim estava a voz de Axl, que fdeixa a desejar em canções em que é mais exigida. O microfone do cantor, que provocou oscilações de volume em determinados momentos, também não ajudou muito. Mas a empolgação e a dedicação de Axl ao show foram suficientes para disfarçar tais deficiências.
No bis, depois de "Patience", "Paradise city", chuva de papel picado, explosões e muita fumaça, a banda retornou ao palco para se despedir dos cariocas ao som do Hino Nacional Brasileiro, executado com perfeição pelo guitarrista Ron Bumblefoot. Um prêmio mais do que merecido aos cariocas que resistiram até às 3h30, com uma segunda-feira inteira pela frente.
5 de abr. de 2010
GUNS no Brasil Again \\ Banda atrasa mais de duas horas e irrita público carioca
Marcadores: Axl Rose, GUNS N' ROSES
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