Por Otávio Augusto Juliano
Em uma semana bastante conturbada e cercada de notícias sobre cancelamentos de shows, a banda W.A.S.P., liderada pelo veterano vocalista Blackie Lawless, apresentou-se em São Paulo, para o que acabou sendo o único show do grupo no Brasil. Um alívio para os fãs que haviam comprado ingressos e chegaram ao Santana Hall cheio de dúvidas se o show iria ou não ocorrer.
Mas é triste ter que dedicar boa parte desta resenha para falar de atrasos, informações desencontradas e caos na espera pela confirmação do show, diante de tanta desconfiança que cercou a passagem do W.A.S.P. pela América Latina.
Primeiro veio a notícia do cancelamento dos shows da banda no México, Peru, Colômbia e Chile, até agora por razões desconhecidas. Depois, mesmo com a notícia de que os shows no Brasil estavam confirmados e com a informação de que em Buenos Aires, no dia 08 de abril, o W.A.S.P. havia tocado sem maiores problemas, os fãs paulistanos tiveram nova surpresa desagradável, para alimentar ainda mais a desconfiança sobre a realização do show em São Paulo: em Curitiba, no dia anterior, os fãs ficaram na porta esperando pela banda que, segundo consta, não aprovou os instrumentos, o equipamento de som e a casa escolhida para o show e simplesmente não apareceu para tocar. Mais um cancelamento, novas informações desencontradas, busca por culpados (produção ou perfeccionismo e estrelismo do vocalista Lawless) etc.
Foi com essas dúvidas e nesse clima de indefinição que o público paulistano compareceu em bom número ao Santana Hall. E não é que em São Paulo o show, embora tenha ocorrido, foi bastante conturbado também...
Já ao chegar ao local do show, este redator percebeu que algo não ia bem. A abertura da casa estava marcada para 17hs e o show, segundo foi divulgado, seria “pontualmente” 18:30hs. Mas já era por volta de 17:30hs e nada do público entrar. Pelo contrário, havia uma fila que cada vez aumentava mais e já dobrava a esquina e outra fila para o acesso à bilheteria de um único guichê, para quem quisesse comprar ingressos na hora (aliás, que fique aqui registrado também a dificuldade para se pegar o credenciamento dos repórteres, pois tudo era feito nesse mesmíssimo guichê único – ou seja, todas as reportagens, assim como esta do Whiplash, tinham que interromper a fila de pessoas que compravam ingressos para pegar o credenciamento, o que causava cada vez mais constrangimento, à medida que a fila ia aumentando e tempo ia passando).
E assim foi o martírio dos fãs que estavam do lado de fora do Santana Hall. Em meio a gritos de “abre, abre, abre”, questionamentos aos seguranças da casa sobre se o show seria mesmo realizado, revolta e ameaça dos mais exaltados, a dúvida sobre o que aconteceria na noite do sábado 10 de abril imperava. Somente por volta de 19:30h, com a confirmação por parte do pessoal da produção de que o show ocorreria é que os ânimos do cansado público se acalmaram. A reportagem do Whiplash apurou que os músicos se atrasaram bastante e que estavam fazendo a passagem de som na hora que estava marcada para o show ocorrer, o que resultou no atraso experimentado pelos pacientes, exaustos e desconfiados fãs do lado de fora da casa. Realmente se ouviu a passagem de som até quase 19:45hs, o que impedia o pessoal da produção de colocar o público pra dentro, pois, segundo também informações obtidas na porta do Santana Hall, Lawless não permitia a presença de quase ninguém durante o ajuste dos instrumentos e ainda ameaçava não se apresentar caso a passagem de som fosse acelerada ou atrapalhada. Com isso, o público permanecia do lado de fora, irritado e na expectativa de ver a banda ao vivo.
Somente quase 3 horas depois do horário marcado para abertura da casa, alguns minutos antes das 20hs, é que foi, enfim, liberada a entrada dos fãs no Santana Hall, também com muita bagunça e um princípio de tumulto, pois havia uma única porta central para passagem de no máximo duas pessoas por vez e a fila, que antes dobrava a esquina, agora já chegava no fim do outro quarteirão.
Depois dessa “novela” toda é que, às 20:30hs, Blackie Lawless e sua trupe atual subiram no palco, para o início da apresentação, com exatas 2 horas de atraso.
Falemos então sobre o tão aguardado show. Se o perfeccionismo de Lawless resultou em atrasos no início da apresentação e também no cancelamento de Curitiba, por outro lado acabou por propiciar aos fãs presentes um ótimo show, em termos de qualidade de som. Ouvia-se perfeitamente e em bom volume todos os instrumentos e também a ótima voz de Blackie, que se mantém potente e inconfundível, mesmo tendo o vocalista seus 53 anos.
Com a dobradinha “On Your Knees”/“The Real Me”, o W.A.S.P. logo de cara já fez o público esquecer (ao menos naquele momento) os atrasos proporcionados pelos músicos e começou seu show de forma bastante enérgica, esquentando a platéia que havia amargado bastante frio na fila (sorte que não choveu, senão o caos seria maior).
“L.O.V.E. Machine” veio na seqüência e então Blackie informou a todos que a banda tinha um novo álbum no mercado, “Babylon”, e duas músicas desse álbum foram executadas, ambas com a tradicional pegada e levada Hard N’ Heavy que sempre marcou a carreira do W.A.S.P.
O show prosseguiu com todos os músicos tocando com perfeição algumas das principais canções da trajetória de quase três décadas do W.A.S.P., como “Wild Child”, cantada em uníssono, e a intensa “Chainsaw Charlie (Murders In The New Morgue)”.
Mike Duda (baixo), Mike Dupke (bateria) e Doug Blair (guitarra), como sempre ocorreu (exceção feita ao parceiro de Lawless e co-fundador da banda, Chris Holmes) são músicos contratados e fazem o que “chefe” Lawless manda. Nesse caso, fizeram muito bem seu trabalho e mostraram muita alegria de tocar em São Paulo, talvez porque dos últimos sete shows anteriormente agendados, somente o de Buenos Aires ocorreu e a vontade de tocar e subir no palco era grande.
Blackie Lawless manteve a expressão de sempre. Em seus quase 2 metros de altura, manteve-se com aquela imagem séria e sisuda, interagindo poucas vezes com o público, somente para anunciar algumas músicas e pedir mais empolgação – e a platéia respondeu bem, agitando muito. Ainda movimentava bastante os braços, pedindo aplausos e gritos dos fãs presentes e parecia muitas vezes estar rezando em voz baixa, pois movimentava os lábios constantemente quando não estava cantando – no final, de fato deve ter rezado, pois antes da última canção da noite fez inclusive o sinal da cruz, mostrando o que já vem sendo noticiado há algum tempo e confirmado pelo vocalista em entrevistas: Lawless hoje é um homem bastante religioso.
No telão que ficava atrás da bateria, imagens dos clipes das músicas eram transmitidas em sincronia com as letras das canções, o que, juntamente com os efeitos de luzes do palco, deixou o show muito interessante.
Como era de se esperar, a julgar pelo que sempre se vê nas resenhas de shows da banda, o show não foi longo, terminando, antes do tradicional bis, às 21:40hs. E o encerramento final se deu às 22hs, após 1:30h de show, com a canção “Heaven's Hung in Black”, do álbum “Dominator” e talvez a mais esperada por todos e sempre responsável pelo fechamento das apresentações do W.A.S.P.: “Blind In Texas”.
Especialmente para este redator, grande fã do W.A.S.P. e que já esteve até fora do Brasil para ver a banda em 2004, é frustrante ver que a maior parte das linhas desta resenha foram destinadas a tratar de assuntos como atraso, desrespeito aos fãs, cancelamentos de shows etc.
Parece mesmo que o histórico de dificuldade de relacionamento do vocalista Lawless com produtores de shows se confirmou também na passagem da banda pelo Brasil e dificilmente a banda voltará à América Latina depois de cancelamentos por razões ainda desconhecidas dos shows do México, Peru, Colômbia e Chile e também da apresentação de Curitiba, ainda com muitos candidatos a culpados e nenhuma nota oficial da produtora e/ou da própria banda.
Pelo menos fica a satisfação do público paulistano quanto ao show bastante técnico e perfeito musicalmente. Se do lado de fora, o estresse, o frio, as longas filas, o cansaço e a falta de informação reinaram, dentro do Santana Hall, com a banda em cima do palco executando clássicos de outrora e músicas atuais, o resultado foi positivo.
Banda:
Blackie Lawless: vocal e guitarra
Mike Duda: baixo
Mike Dupke: bateria
Doug Blair: guitarra
Set List:
1. Intro
2. “On Your Knees”/“The Real Me”
3. “L.O.V.E. Machine”
4. “Crazy”
5. “Babylon's Burning”
6. “Wild Child”
7. “Hellion” / “I Don't Need No Doctor” / “Scream Until You Like It”
8. “Arena Of Pleasure”
9. “Chainsaw Charlie (Murders in the New Morgue)”
10. “The Idol”
11. “I Wanna Be Somebody”
------------------------------------
12. “Heaven's Hung in Black”
13. “Blind In Texas”
Comentários: Sou contra estes eventos que tem horário limite pra depois ocorrer outro show (geralmente de pagode ou forró). O clima é sempre o de uma "bomba-relógio".
É triste que a ganância dos produtores acabe deixando o conforto dos fãs de lado.
Na cidade de São Paulo existem vários espaços disponíves e de melhor qualidade, que poderiam acolher estes shows de médio porte, sem o problema de horário, como tem ocorrido nestes shows "matinê".
Neste sábado, por exemplo, o W.A.S.P. teve que acabar o show as pressas porque as 22 hs iria entrar um grupo chamado "MELECA". E o pior que o nome era esse mesmo.
Alguns dizem que estas bandas clássicas estão falidas e que estes locais são apenas um reflexo da decadência que eles se encontram nos tempos de hoje.
Os resultados destes eventos mal organizados são imediatos: Black Lawless já informou que não retornará mais ao Brasil nem a América do Sul.
0 comentários:
Postar um comentário