Recentemente, o Metallica esteve no Brasil para três apresentações - duas em São Paulo e uma em Porto Alegre - da turnê do disco "Death Magnetic" e o Sepultura fez a abertura dos dois shows em São Paulo.
Desde a última visita do Metallica ao Brasil, em 1999, - show que o Sepultura também abriu, não só no Brasil mas na Argentina e Chile - que eu escuto a história de um suposto boicote por parte do Metallica ao som do Sepultura, especialmente no show de São Paulo, que foi no estacionamento do sambódromo do Anhembi para mais de 70 mil pessoas.
É verdade que a estrutura do show não tinha telões e não era a mais adequada para o local e para a quantidade de pessoas, e é verdade também que o nosso som ficou realmente muito baixo, talvez exageradamente baixo, mas isso é o que geralmente acontece no mundo inteiro, não só aqui no Brasil quando uma banda brasileira abre um show para algum artista gringo. Lembro das reclamações das bandas brasileiras no Rock in Rio I sobre a falta de tempo e condições para se fazer o show, que não podiam usar as luzes, o equipamento, etc.
Isto faz parte da cultura do rock and roll, o headliner, ou seja, a atração principal, comanda o show e dita as regras. Quando o U2 veio ao Brasil, eles trouxeram o Franz Ferdinand, que também não teve nem a metade da estrutura que teve o U2. Isto não é bairrismo ou desrespeito ao brasileiro, acontece com qualquer banda de abertura, seja onde for.
Agora, neste último fim de semana, tivemos o privilégio de tocar com o Metallica de novo, no estádio do Morumbi, dois shows fantásticos de celebração do heavy metal. Claro que a preocupação dos fãs voltou à tona, todos me perguntavam qual era a minha expectativa sobre o show e sobre o que o Sepultura teria de equipamento para mostrar o seu som. Alguns profissionais da imprensa tentaram fazer algumas entrevistas batendo muito nesta tecla do som, tentando criar um clima meio tenso entre as bandas, um clima de disputa, o que obviamente não existe. Eu estava tranquilo quanto a isso, o caso de São Paulo em 1999 foi um caso isolado. Como eu disse, fizemos a turnê sul-americana do Metallica, passando por Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Buenos Aires e Santiago, e todos foram fantásticos, somente no de São Paulo tivemos este problema do som. Eu nunca vou saber o que realmente aconteceu e duvido de coração que algo tenha partido da banda, pois em outros shows, nunca tivemos este tipo de coisa.
Já fizemos shows com o Metallica na Alemanha, Inglaterra e Portugal, e em grandes festivais, junto com outras bandas como o Extreme e Ben Harper. Nenhum destes artistas tiveram o mesmo som e as mesmas luzes que o Metallica, headliner da noite. As bandas de abertura não podem usar efeitos pirotécnicos, panos de fundo ou luzes especiais, a não ser que o headliner aprove. Inclusive no merchandising, onde se vende as camisetas, posters e outras coisas com os logos das bandas, não se pode vender mais artigos ou cobrar mais do que o material do headliner.
O Sepultura também já abriu shows do Black Sabbath, Ozzy Osbourne, AC/DC, Faith No More, Pantera, Iron Maiden, Sting, Peter Gabriel, Robert Plant e esta regra é sempre respeitada. Teve uma turnê que fizemos com o Slayer, também no ano de 1999, na Europa, onde fomos co-headliners, ou seja, tudo era dividido igualmente entre as bandas, o tempo no palco, as luzes, o som, os camarins e os cachês, aí sim tivemos condições iguais de apresentar o show sem limites impostos por ninguém. Claro que uma banda tem que tocar primeiro que a outra, mas a estrutura é a mesma. Foi igual no ano passado, quando fizemos a turnê brasileira do nosso último trabalho, "A-LEX", junto com o Angra, condições iguais em todos os níveis.
Quando o Sepultura é o headliners, é a mesma coisa. E isso não significa que nós estamos "sabotando" o show das bandas de abertura, eles sabem como são as regras e trabalham de acordo com elas. Nós montamos o nosso equipamento no palco, afinamos as luzes, passamos o som e deixamos tudo pronto para o show, as bandas de abertura têm um espaço limitado no palco para montar seu equipamento e de vez em quando a bateria tem que ser montada ao lado, na frente dos amplificadores porque não há espaço no frente do palco. Na primeira turnê do Sepultura fora do Brasil, na Europa com a banda alemã Sodom, em 1989, nós aprendemos isso na raça. Foi uma grande escola, aprendemos a tocar em tudo quanto é tipo de palco e situação, adquirindo experiência e crescendo como músico.
Um show não é totalmente feito somente de efeitos especias e pirotécnicos, de lasers e outras coisas, ele é feito, principalmente, da atitude da banda e dos músicos, de se alimentar deste limites impostos e extrapolar os seus próprios. O Sepultura se alimentou muito destas situações, para crescer no palco e colocar as frustrações na música, fazendo sempre do show uma grande experiência.
Os shows do fim de semana foram memoráveis, inesquecíveis. Eu como fã incondicional do Metallica, me sinto muito feliz de dividir o palco com estes grandes mestres. Obrigado aos fãs, que receberam o Sepultura de forma muito calorosa e com uma energia única. Vai ficar marcado como um dos melhores momentos da história da banda! Keep metal alive!!!
Acessem o site do Sepultura (www.sepultura.com.br) para conferir mais fotos e vídeos dos shows em São Paulo.
Abraço e play it loud!
Andreas
6 de fev. de 2010
Resenha\\ Metallica, Sepultura e a polêmica do volume
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