O primeiro show da banda norte-americana Metallica em seu retorno ao Brasil após quase 11 anos reuniu mais de 20 mil pessoas no Parque Condor, em Porto Alegre. Em pouco mais de duas horas de espetáculo, a banda mostrou porque é o principal nome na história do thrash metal.
Anteriormente agendado para o estádio do São José, o local foi alterado devido a problemas de regularização junto ao Corpo de Bombeiros. A chuva que caiu no início da tarde em Porto Alegre parou antes da abertura dos portões, às 17 horas, mas deixou de herança ao público um lamaçal que acompanharia todos os fãs durante a noite de quinta-feira.
Quem não conhecia ficou impressionado com a Hibria, banda local que abriu a noite do metal em Porto Alegre. Com turnês pela Ásia, Europa e América do Norte no currículo, o quinteto mostrou porque está consolidando seu nome no cenário do metal internacional. Nos exatos 45 minutos entre a abertura com “Tiger punch” e o encerramento com “Steel lord on wheels”, a banda despejou um power metal vigoroso, deixando o palco ovacionada pelo público já aquecido para a atração principal.
Metallica abre com trinca do disco “Ride the lightining” e fãs alucinam
Às 21h50, o silêncio recheado de expectativa foi quebrado subitamente pela projeção no telão de uma cena do clássico faroeste “O bom, o mau e o feio”, e sua trilha “The ecstasy of gold”, que costuma abrir os shows da banda. James Hetfield (vocal e guitarra), Kirk Hammett (guitarra), Robert Trujillo (baixo) e Lars Ulrich (bateria), os quatro aguardados cavaleiros do apocalipse, entraram no palco e deixaram o público em ebulição imediata, abrindo o setlist com “Creeping death” – a exemplo dos shows anteriores da World Magnetic Tour no continente. Na seqüência, outra clássica, “For whom the bell tolls”. Quando ninguém mais esperava por outra do disco “Ride the lightning”, de 1984, a própria faixa-título foi executada – uma raridade nos shows da banda.
A seguir, como um maestro diante de milhares pessoas hipnotizadas, o vocalista James Hetfield invocou uma celebração que pegou a todos de surpresa. Queria que todos comemorassem ao máximo esta, que seria a primeira passagem do Metallica por Porto Alegre. Aparentemente, o show de 1999 no Jóquei Clube da cidade não ficou em sua memória. Mas o show seguiu, petardo após petardo. “The memory remains”, do álbum “Reload” foi a próxima, e colocou todo o público para cantar. A seguir, “Fade to black”, outra que jamais faltaria. Então, o quarteto abriu alas para apresentar as novas músicas, do disco “Death magnetic”, lançado em 2008.
Músicas do novo álbum têm aprovação imediata
A escolha do repertório deixou muito clara uma tentativa de aproximação entre o trabalho mais recente e a fase clássica dos anos 80, quando o Metallica moldou o gênero e se transformou no maior expoente mundial do thrash metal. Também fica óbvio o objetivo de esquecer o período conturbado que quase pôs fim à banda, após a saída do baixista Jason Newsted em 2001. Nenhuma faixa do disco St. Anger, de 2003, foi executada. Visto com restrições pela maior parte dos fãs, tal trabalho virou marco de um período de dificuldades e reconstrução. Tanto a banda quanto o público sabem disso, e tal ausência não foi sentida.
“That was just your life”, “The end of the line” e “The day that never comes” foram tocadas na sequência, com o público cantando junto e mostrando que o novo material está definitivamente aprovado. Então James perguntou se sua audiência queria peso. Com a resposta positiva, o quarteto tirou da manga o que possui de sobra: clássicos. “Sad but true”, “Master of puppets” e “Battery”, intercaladas pela recente e já consagrada “Cyanide” trouxeram o Parque Condor abaixo. Entre elas, a épica “One” abusou da pirotecnia, com chamas, sons de bombardeio e fogos de artifício sincronizados à música sendo lançados de trás do palco.
Para acalmar os ânimos, chegou a vez de “Nothing else matters”, seguida por outra do histórico disco preto de 1991, “Enter Sandman”. Após essa – talvez a música mais emblemática da banda para o grande público – o palco foi abandonado. Seria o fim?
No bis, banda resgata primórdios e Hetfield confirma “primeira vez”
Todos sabiam que não. Na escuridão do palco, o guitarrista Kirk Hammett puxou o riff de “The frayed ends of sanity”, outra de rara execução. Apesar do fiel coro dos fãs, que demonstravam conhecer cada detalhe das canções mais obscuras, a escolha para abrir o retorno da banda ao palco foi a cover de Misfits, “Die, die my darling”. Então, um álbum que ainda não havia sido devidamente contemplado, veio à tona para tranquilizar os mais exigentes. Para quem conheceu o Metallica já no disco “Kill ‘em all”, de 1983, o presente chegou com “Phantomlord”, mais uma música que há décadas não era garantida no repertório.
O público sabia que viria mais, e “Seek and destroy” foi o grito uniforme nos últimos momentos da noite. James Hetfield voltou a celebrar a grande estreia do Metallica em Porto Alegre. “Como é nossa primeira vez aqui, vamos tocar algo simples, mas pesado”. Ao fundo, um Hammett constrangido acenava para o público mostrando os dois dedos, talvez confirmando que lembrava de 1999. Sem problemas: “Seek and destroy” veio, e todos ficaram satisfeitos. Para os fãs que sempre querem mais, o riff de “Wasting my hate” foi executado. Mas só uma vez, e tudo se acabou. Assim, “Load”, disco de 1996, também ficou órfão.
Já com o show finalizado, um membro da equipe da banda é alvo de tortadas e abraços. James explica tratar-se do “presidente do Metallica”, Zach Harmon, o homem por trás das cortinas. Palhetas e baquetas lançadas ao público, Trujillo e Hammett agradecem em português, e Lars chega para consertar as coisas. “Ei, só eu acho que não devemos esperar mais onze anos para tocar aqui em Porto Alegre?” O público concorda.
O quarteto vai embora para São Paulo, que o aguarda para dois shows, sábado (30) e domingo (31). Se James esqueceu 1999, pode também esquecer 2010. Os fãs de diversas partes do Brasil que estiveram em Porto Alegre nesta noite de quinta-feira o perdoam, não se importam, e não esquecerão.
Setlist
Creeping death
For whom the bell tolls
Ride the lightning
The memory remains
Fade to black
That was just your life
The end of the line
The day that never comes
Sad but true
Cyanide
One
Master of puppets
Battery
Nothing else matters
Enter Sandman
Die, die, my darling
Phantomlord
Seek and destroy
Comentários: Set List perfeito, mas em Sampa, eu também gostaria de ver: Whiplash, Fight Fire with Fire, The Thing That Should Not Be, Welcome Home (Sanitarium), Blackened, ...And Justice For All, Harvester of Sorrow e Wherever I May Roam. Aí fudeu!
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